Seus defeitos e fraquezas são propriedades sigilosas e intransferíveis
suas. Identificá-los e tratar deles é necessário, mas que seja feito com
cautela e privacidade. Ser honesto sobre suas falhas com o outro, requer um
nível de intimidade grande e ainda assim deve ser feito com parcimônia. E quem
fala isso é uma pessoa que viveu a vida inteira falando aos quatro ventos seus
medos, receios e defeitos. Eu pensava que verbalizar fazia parte do processo de
aceitação e demonstrava probidade de caráter. Eu a todo o momento queria deixar
claro ao outro quem eu era, cheia de defeitos e algumas virtudes. Isso me dava
certa leveza e brilho nos olhos, mas do outro lado o cenário era diferente.
A teoria dos jogos é uma tática que foi inserida no nosso DNA e que
praticamos até sem perceber. As pessoas (obrigatoriamente) ao se sentirem
acuadas ou ameaçadas não vão pensar duas vezes em acertar no seu nervo. Naquele
mesmo nervo que você expôs ao falar de si por aí. E eles não terão piedade.
Muitas vezes serão tão sutis, que você nem sentirá a pancada. Só a tontura, o
calor do sangue escorrendo ou só o desmaio. Não que as pessoas sejam em tudo
ruins, não que você mesmo não tenha feito algo do tipo com alguém algum dia. A
questão é que a teoria dos jogos pode ser identificada todo santo dia, do
diálogo mais comum às discussões mais acaloradas. Os argumentos serão
construídos em cima dos pedaços vulneráveis dos partícipes. É uma tática tão
usada hoje quanto nas tantas batalhas da História e até no reino animal. O ser mais
frágil será sempre o alvo. O predador sempre irá perceber seu membro ferido
antes mesmo de perceber você. Não existe, contudo a total premeditação, a
completa racionalidade nesses casos. Agimos assim por instinto, boa parte das
vezes.
A maioria das pessoas pouco evoluídas enxerga pessoas melhores que elas
como uma ameaça, e não uma inspiração. Se você se destaca em alguma área,
se tem alguma habilidade incomum, ou simplesmente é diferente que os demais em
alguma coisa, já será excluído do grupo. De forma intencional ou não, as
pessoas entram em posição de defesa ao identificarem que são menores ou piores
que quem quer que seja. Isso vale para marido e mulher, amigos, irmãos, pares
no trabalho, qualquer relação minimamente de igualdade. A primeira reação ao se
identificar pior que alguém é o medo e a rejeição automática. Poucos conseguem
manifestar (programaticamente ou não) o sentimento de admiração ou inspiração nesses
momentos. Principalmente quando se trata de pessoas próximas, que não são idealizadas
ou inatingíveis. Quando a figura referencial não está longe ou mitificada, como
um guru, um líder ou ídolo, a principal reação é a “eliminação para sobrevivência”.
O referencial precisa estar longe para evitar comparações. Deles próprios ou
dos demais. Então resguardar a genialidade ou qualquer grau de inteligência é
mandatório. Qualquer demonstração de conhecimento e iluminação deve ser feita
com cuidado, em doses pequenas e apenas quando for expressamente necessária.
E por último, mas não menos
importante, nunca subestime: a
ignorância, o ódio, a inveja, a teimosia, a mentira, a audácia, a maldade e a
falsidade do outro, bem como sua dor. Sempre que for possível ou houver espaço,
as coisas ficarão piores. Viva com isso em mente e pronta para um plano de
contingência.
Aldrêycka Albuquerque
Nenhum comentário:
Postar um comentário