"You could be my poison my cross
My razor blade
I could love you more than life
If I wasn’t so afraid
Of what it all could be"
Damien Rice
Parênteses
Na verdade eu sempre secretamente desejei que num desses rompantes de coragem, no meio de uma frase ou de um restaurante lotado, você me pegasse entre os braços e sufocasse nossa conversa com beijos.
Constantemente venho administrando meu desejo de simplesmente tocar teu rosto, acompanhar tuas linhas de expressão, beijar de leve teus parênteses. Ah, esses teus parênteses... O que de mais charmoso e intrigantes trazes no sorrir. Linhas côncavas dispostas de cada lado da tua face, como guardiões do teu sorriso, lembretes sutis da brevidade dos momentos felizes.
E quantas vezes eu já conjecturei, em um surto de ousadia eu mesma mandasse às favas todas as caraminholas que venho cultivando, e te jogasse na parede, sem aviso prévio ou chances de defesa. O que você faria?
Mas eu continuo a super-analisar tudo, fico aqui querendo calcular o efeito borboleta de cada atitude mais ofensiva que eu pudesse vir a tomar. Racionalizando demais, enquanto você se distancia.
Raros são os momentos de ouro, que me sinto mais próxima de você como nunca antes. Geralmente estamos presos em redomas separadas, olhando um para o outro pelo vidro, esperando quem enfim terá coragem de jogar a primeira pedra e sair de lá, ir em frente e resgatar o outro.
Mas enquanto a reviravolta da nossa história não chega, permanecemos em nossas gaiolas de vidro, escrevendo mensagens invertidas sem nunca saber se serão lidas, ou até mesmo corretamente interpretadas.
E eu, perdida em lembranças suas e de nossos momentos, passo os dias na esperança de uma mensagem, recado ou sinal de fogo, qualquer notícia sua que nunca chega. Até que de repente eu perco a paciência e estouro minha redoma, aproveito para também jogar uma pedrinha em teu teto de vidro, só assim você não esquece de mim. Só assim para você perceber que também pode sair daí e vir caminhar comigo. Agora juntos.
Aldrêycka Albuquerque