sábado, 4 de outubro de 2014

[RESENHA] – Flores Azuis, Carola Saavedra



Em Flores Azuis, a chilena Carola Saavedra mescla uma história de plano de fundo com uma misteriosa história principal que é contada através de cartas. Temos dois personagens principais, um da história principal – quem escreve as cartas, e outro da história secundária – quem lê as cartas. Uma leitura rápida, mas bastante intensa, e que se desenrola aos poucos, de camada a camada, cada personagem revela um pouco da sua própria história.

Geralmente eu comento pouco sobre o enredo, para evitar spoilers. Mas esse livro eu precisarei ser mais específica, para poder compartilhar minha surpresa, indignação, pena e até empatia que senti ao ler cada página. Em Flores Azuis uma mulher conta por meio de cartas de envelopes azuis, sua história de amor para um total desconhecido. Se ela errou o endereço do destinatário, ou simplesmente queria compartilhar aquela história com alguém, eu não consegui descobrir. Mas se trata de uma história tão complexa e dolorida, que conseguiu influenciar atingir em cheio a vida do desconhecido leitor.

As cartas de Saavedra são uma mistura de poesia e desespero, de emoção e catástrofe. Não só o leitor se envolve e se desespera com uma história tão comovente, mas nós, ao ler esse livro, sentimos um incômodo quase físico, gutural, com a história. Escancaramos a vida de uma mulher ao ler, inadvertidamente, uma carta que não foi destinada para nós. E toda essa avalanche de sentimentos, tudo por causa do amor!

O grande protagonista em Flores Azuis é o amor. Qual o tamanho do amor? Qual a medida do amor? Quanta dor cabe no amor? E qual a métrica para o perdão? Quando alguém ama de verdade, deve suportar qualquer coisa? Deve perdoar tudo? Absolutamente tudo?

Carola Saavedra resume em seu livro, algo bastante tenebroso: o lado cego e obscuro do amor.

Vale a leitura. E ainda vou além! Leia em par, chame alguém pra ler esse livro junto com você! Pois quando terminar de lê-lo, você vai desejar enlouquecidamente alguém para comentar, discutir e questionar sobre o enredo. Então, arrume um amigo e boa leitura!


QUOTES:
“Escrevo para que você me leia. Simples assim. Para que você leia e volte, para que você me leia e pense que há algo surpreendentemente belo em mim, algo que você não viu, algo que passou por nós despercebido. [Escrevo] para que você me leia e ame. Mesmo que amar não seja assim tão fácil, amar não é assim tão fácil.”
"Ontem fiquei pensando nisso, no amor, nessa insistência no amor, como se o amor pudesse nos salvar de tudo, como se o amor pudesse nos salvar do ódio, da loucura e até do desejo. Quem será que inventou isso? Se nem mesmo do amor o amor nos salvaria!"
“No momento que acontecem, as coisas nunca assumem a importância que deveriam ter. Só muito depois, quando o tempo passou e a vida passou e tudo passou. No momento, ao contrário, é tudo tão rápido, tão simples, sem grandes escândalos, que é como acontecem as coisas mais espantosas.”
“Então, é apenas isso, esta última carta, e tudo o que te escrevi. Apenas para dizer que eu te receberia, se você voltasse, se você quisesse, se você, sem perceber, estendesse entre nós um atalho, uma ponte. Apenas isso. Eu te receberia sem perguntas, sem exigências, eu beijaria a tua mão e te guiaria até o quarto, o mesmo quarto, o nosso, a mesma cama, lembra?” 


Aldrêycka Albuquerque