segunda-feira, 20 de julho de 2015

Somewhere Only I Know





Aos vinte e sete parei para analisar minha vida em retrospecto, tentando de alguma forma encontrar pistas, dicas sobre o que me espera no futuro. E me deixou impressionada tudo o que vi, tudo o que tirei do lugar, depois de tirar a poeira e reencontrar velhos baús, ao ir se alojando no passado aqueles fragmentos de vida perderam toda aquela atmosfera fantástica e ameaçadora que tinham. Tudo ficou em perspectiva.

Primeiramente nada aconteceu como eu planejei ou mesmo sonhei. Nem tão arrebatador como nos sonhos, nem tão terreno como nos planos. Minha vida se desdobrou do jeito que ela mesma quis e eu tive é que me virar, me dobrar e revirar pra dar conta. E olhando pra trás, fui mais protagonista que dublê da minha vida. E essa é a primeira conquista que eu encontrei no meu passado.

Outra conquista, muito maior e mais relevante, foi perceber a grandiosidade com que o Senhor tem me conduzido pelos corredores estreitos da vida. Muitas vezes brincando a beira do precipício, olhando desafiadora lá pra baixo, fechando os olhos muitas vezes, Ele foi sempre impassível em me cuidar, em me livrar, em me ensinar. E hoje eu não poderia ser mais grata. Pois não consigo imaginar onde eu estaria se Ele não estivesse se feito presente de maneira tão firme em minha vida. Me ajudando, renovando as forças, e principalmente me ensinando a esperar, enquanto segurava firme na minha mão.

E como alguém pode dizer que seus sonhos não se realizaram e ainda assim ser tão grata? Pois toda vez que me vi fazendo planos, ao olhar em retrospectiva, vejo o quanto estava fora de rota e míope. O quanto estava pautando minha felicidade aos parâmetros alheios, escolhendo meus sonhos das prateleiras de outro alguém. Sem nunca perceber minha unicidade, o ineditismo que tinha o meu chamado. E quando as variáveis estão equivocadas, o resultado sempre é afetado. Minha vida foi parar onde eu não esperava. Não aos vinte e sete.

Não encontrei o amor da minha vida, não tive meus três filhos nem moro na casa dos meus sonhos. E antes de bater aquela dorzinha fina do fracasso, alguém me lembra que era aqui mesmo que eu deveria estar. Que ainda estou cumprindo meu chamado, minha luta ainda não foi vencida. Ainda existem montanhas a transpor, lutas a vencer e prêmios a conquistar. "Quem disse que seria fácil?" O futuro pra mim ainda não perdeu o brilho, ainda é fantástico tudo o que eu espero. Por mais que eu tenha aprendido que nada é do jeito que eu acredito que deve ser, nem por isso é pior. Só diferente.

E por mais que eu sinta falta de conquistar tantas outras batalhas, fico feliz pelo que consegui até agora. Muito mais do que eu era capaz, com certeza. Muito mais longe, me sinto preparada pra ir hoje. Muito mais do que quando tinha dezessete, hoje me sinto muito mais preparada para conseguir alçar vôos mais complexos, mais completos e mais profundos.

Só preciso colocar as caixas do passado de volta onde elas devem estar, e arrumar espaço para novas caixas, novas experiências e novas conquistas. Tirar o pó, abrir as janelas, quem sabe comprar uma plantinha e cuidar até vê-la nascer em mim.


Aldrêycka Albuquerque