sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Pós-feministas Incongruentes





Tethered to a bird of sorrow
A voice that's buried in the hollow
You've given over to self-deceiving
You're prostrate bound but not believing
You've squandered more than you could borrow
You bet your joys on all tomorrow
And for the hope of some returning
While everything around you is burning
Bird of Sorrow, Glen Hansard


Um dia desses uma amiga veio me falar do buraco que sentia no peito pelo falta do amor que tinha a deixado. Um duro golpe pra ela, que há seis meses tinha resolvido deixá-lo e quando mudou de idéia, descobriu que agora era ele que não queria mais nada. Cada um teve seu motivo, cada qual com sua razão e certezas. O motivo dele foi mais dramático, um filho. O dela, provavelmente o pós-feminismo. Ou, se me permitirem a expressão, puro excesso de ego. Pelo menos é o que enxergo eu daqui do outro lado, safe and sound.

“Não sei gostar das pessoas pela metade.” Já escrevia Jane Austen em seu romance mais juvenil. E talvez essa afirmação até seja bem adolescente mesmo, prova da totalidade e do binarismo de ser dos jovens. Mas é bem isso, eu também não sou de gostar pela metade, de querer, mas não se importar. Vou fundo em qualquer que seja a relação para que nunca haja dúvidas sobre os meus sentimentos. E é por isso que quando vejo mulheres incongruentes, que deixam passar pelos dedos seus amores, me ponho a pensar... Por que estar com quem se gosta não é o bastante? Pra quê complicar? Procurar desculpas? Dizer “ah, somos tão diferentes” quando o que se quer dizer mesmo é “não tenho coragem de me abrir pro amor”. As mulheres adeptas ao pós-feminismo que impera nos dias de hoje, querem muito, exigem muito do amor e do amado, mas acabam se esquecendo que também precisam ser alguém disposto a oferecer amor para a outra pessoa. Ser alguém capaz de amar tanto quanto exige ser amado. Como se amor se exigisse... Mas me permitam a licença poética.

Hoje as mulheres ditas independentes (as que batizei de pós-feministas), as incendiárias de sutiãs (e corações) dos dias atuais, são neuróticas que vivem reclamando. Como se reclamar do homem fosse prova do poder que elas têm sobre eles, ou pior, prova de sua não-submissão, não-dependência. Mas se isso prova alguma coisa, provaria apenas a loucura dessas mulheres. Acompanhem comigo. Se elas ganham flores, queriam chocolate, se ganham chocolate, eles não têm criatividade nem romantismo; Se eles ligam, elas queriam que não ligassem tanto – está me sufocando! -, mas se não ligam são insensíveis; Se eles as visitam, são grudentos, se não aparecem nas casas delas estão as traindo; E se eles não estão as traindo, eles provavelmente estão traindo – porque eles sempre traem, certo? Errado.

Essa enxurrada de neuras é tudo desculpa. As mulheres hoje pararam de procurar o amor e simplesmente procuram critérios. Critérios para serem atendidos (apenas) pelos homens. Critérios que no final das contas elas nem entendem de verdade, e os criam quando querem e para justificarem suas próprias neuroses. Critérios que são impossíveis de serem atendidos pois são subjetivos demais, confusos demais... Ou seja, as mulheres modernas e independentes deixam seus homens relegados a uma eterna investigação que no final das contas vai provar (sempre) que eles são culpados de qualquer coisa. Que elas não precisam deles para nada. Que eles não prestam, que são insuficientes. E quando eles se cansam e vão embora, elas sofrem. Por quê era tudo aparência. Ela o amava, só não sabia deixar isso claro. Tinha medo de que amar a fizesse parecer fraca.

Mecanismo de defesa. Técnica universalmente utilizada por todas as espécies da Terra. Mas as tais mulheres pós-feministas parecem que estão fazendo errado, tudo errado. Se vocês estão apaixonadas moçoilas, desarmem-se! Se deixem passar por boba, falem o que querem falar de verdade, sejam a primeira a dizer eu te amo. Medo pra quê? Se tiver que acabar, se ele tiver de se mostrar um canalha ou se você se decepcionar, o que vai estar em questão será o caráter dele, e não a sua habilidade de amar. E convenhamos, muito pior que ter amado e ter quebrado a cara, é se perceber incapaz de receber (e dar) amor.

Não esqueçamos que no amor a via é de mão dupla.


Aldrêycka Albuquerque

 


Um comentário:

Luísa Chaves disse...

Texto sensacional e coberto de razão!

Mas sabe o que eu vejo ser um grande problema também? Essa necessidade de se sentir a vítima que algumas - só pra não generalizar - mulheres tem. Sempre encontram algum defeito, algo que as deixe como sofredoras, que não encontram o par "perfeito" ou só conseguem cafajestes (será mesmo?).

Ô bicho que gosta de sofrer!