Faz meses
que não venho aqui atualizar sobre minha vida. E como esse blog é meu escape
terapêutico, não escrever aqui sobre mim é o mesmo que pagar um analista e
faltar às sessões. E isso é algo feio de se fazer, certo? Então vamos para o
que interessa.
Eu andei
pensando esses dias. E acho que essa minha mania de querer estar longe de tudo,
fora do circuito usual, diferente até o fio de cabelo, separada de tudo e
todos, é na verdade um problema. Não que eu ache que seja um problema maior que
tantos que vemos por aí, mas até que ponto isso deixa de ser um estilo de vida
pra virar um nojinho? Um jeitinho nojento de pensar, como se eu fosse superior
a tudo e todos? Não querer cometer os mesmos erros que todo mundo é uma forma
de afirmar meu autocontrole (como sempre prego aos quatro ventos), ou é apenas
uma forma de me sentir superior?
Não sei
precisar qual foi o exato momento que essa concepção veio até mim quase como
uma caixa pesada caindo de um avião sob minha cabeça. Talvez foi num dia que li
num livro uma personagem que dizia que desde a maternidade ela veio com um
grande problema de não se conformar com nada, tudo precisava estar melhor,
então ela reclamava de tudo. Então prestei atenção em mim, e me vi
desconfortável a todo momento. Aonde eu vou, com quem quer que eu esteja, eu
estou desconfortável. Como se alguma coisa fedesse levemente e mesmo sem
perceber, eu estava pra cima e pra baixo com a respiração segurada. Tentando
não respirar pelo nariz para não se contaminar com o mau cheiro. Eu meio que sou
assim. Todo dia, em qualquer lugar. Isso é feio!
Eu julgo
todos a todo momento, e consciente do que estou fazendo! Mas olhe, veja bem,
não são julgamentos maus, nem rígidos. É como se minha maldita ansiedade, que
carrego desde o útero da minha mãe, não me permitisse conhecer as pessoas
primeiro, analisá-las e depois sair com um diagnóstico. Okay, parece feio, mas
isso é algo que todo mundo faz. Conscientemente ou não. O problema é que eu
bato o olho em alguém e já dou um diagnóstico. Consciente de que posso estar
errada, mas flexível ao ponto de esperar que essa pessoa me faça mudar de ideia
sobre ela. O problema (ou sorte?) é que geralmente eu acerto. E então as
pessoas se tornam pra mim tão previsíveis... São comentários, olhares,
sorrisos, atitudes que parecem que denunciam cada uma delas. E então o que
fazer com diagnósticos assim tão precisos? Se sentir incomodada! Prendendo a
respiração. Sorrindo e tentando entender o porquê da pessoa ser assim.
Não que
eu nunca erre. Já errei algumas vezes. Não sei se por acaso ou não, mas
geralmente isso ocorre com homens. Não sempre, poucas vezes. Com alguns eu
faço diagnósticos equivocados. Troco um ato de desejo, por simples
interesse. Simpatia por caráter. Não sei, mas às vezes eles me confundem. Não
sempre, é claro. Sou bem assertiva nesse departamento. Mas quando eu erro,
geralmente foi por que fiz um diagnóstico positivo pra alguém não tão legal
assim. Mas, rapidamente percebo o erro e tiro o time de campo. Mas já foi,
errei. E volta a mania de me achar melhor, superior de alguma forma. "Mas
eu nunca faria isso. Nunca mentiria dessa forma. Nunca diria isso assim dessa
forma. Mas o que ele está pensando? Que insensível. Opa, é isso. Ele é só mais
um. Que pena, pensei que ele fosse diferente." Então nessa mania doida de
ficar chegando a diagnósticos de que todos são iguais entre si, e diferentes de
mim, me coloco numa posição de superior, não acham? Ou sou apenas diferente
mesmo?
Não
encontrar até agora alguém que pense como eu, haja como eu, ou viva da mesma
forma que vivo, prova que eu realmente sou diferente, ou que eu tento me
mostrar superior de todo mundo, então tento ser diferente de alguma forma?
Velho dilema do ovo e da galinha...
Então
tinha esse cara. [Sempre tem, né?] E dele vinha uma estática diferente quando
estávamos juntos. E os comentários dele passaram ser diferentes da maioria.
Coisas que só passavam na minha cabeça, ele falava naturalmente. Sem me
estudar, sem querer ser estrategista, ele falava e fazia muita coisa das quais
eu pensava e fazia. E ele mal me conhecia! O que seria aquilo? Ele então era
"um dos meus"? Aquilo era sincronia? Um dos diferentes no meio da
multidão de iguais? Então eu peguei aquilo ali e me agarrei. Fiz a besteira
(que sempre faço) de falar abertamente das minhas falhas e meus pontos fracos,
me permitir conhecê-lo ao fazer ele conhecer a mim. E ele parecia tão
confiável, não precisei de muito tempo pra isso. Meus diagnósticos super-rápidos
quase sempre estão certos. Porém não estavam dessa vez. Ele era só uma pessoa
simpática. E que como a maioria, na primeira oportunidade que teve de atingir
um nervo, ele fez. Sorrindo. Aquilo tudo não era uma paixão, não eram duas
pessoas se conhecendo e começando a se gostar de alguma forma. Era um tubarão
fazendo seu papel na cadeia alimentar que é cercar a presa antes de atacar. E
não importa se ele não tinha intenção de atacar ali ou depois. Talvez ele nem
tivesse intenção de atacar. Ou se o momento tivesse sido propício ele até
atacaria mesmo, ele é um tubarão! O negócio aqui não é o ataque, é o cercar.
Eles vão te cercar estando com fome ou não. E eu não vi que era um ritual de
ataque, pensei que fosse outra coisa. Ele nadando ao meu redor, pronto pra
atacar e eu ouvia música!! Pensava que ele estava dançando comigo. Ôh tolinha...
Excetuando-se
todos os dramas, é isso o que acontece de vez em quando comigo. Então todas as
máscaras caem e eu volto à questão inicial. Ele é mais um, eu diferente. Isso é
querer se achar num patamar superior?
Então
tinha esse outro cara. Antes mesmo de fazer um diagnóstico desses rápidos que
faço (e seria bem provável que eu iria cometer com ele um daqueles errinhos
que de vez em quando cometo), ele deu uma super pisada de bola que me fez
rapidamente colocasse um rótulo bem na cara dele, e então fechei o caso. Closed case, não tinha mais
discussão. A atitude dele só provou que ele não só era mais um dos tantos por
aí, como parecia ser de uma espécie ainda mais desprezível. Ele era um daqueles
que caçam por hobbie, ou por vício. Compulsivamente. Então joguei um rótulo pra
ele e segui em frente. Porém o tempo passou e me permiti conhecê-lo
despretensiosamente. Lógico, que a todo momento o diagnóstico estava muito
claro. Porém de repente me vi numa encruzilhada. Ele tinha um dos piores
diagnósticos, mas mesmo assim me fazia sentir atraída naquele campo
gravitacional dele. E eu não falo aqui de desejo sexual, é muito mais complexo
que isso. São daquelas pessoas que você sente que pode falar o que realmente
pensa, e ela vai entender. E você vai se sentir cada vez mais tranquila em se
abrir pra ela, e mais uma vez falar das suas falhas, dos seus pontos fracos. E
lá estava eu, novamente sem o mínimo pudor de falar de mim, falar abertamente
sobre minhas falhas. Isso é
uma merda! As pessoas se
aproveitam disso, e vão usar isso contra você quando você menos esperar. Mas lá
estava eu, me abrindo pro cara do diagnóstico ruim. Se eu quebrei a cara? Até
agora não. Mas sinto que esse não é o caminho certo. A transparência leva a
intimidade, que leva a um certo grau de desejo intelectual que pode levar ao
desejo sexual. Aí quando chega nesse estágio, os diagnósticos vão para o saco.
E isso é perigoso. Principalmente por ele ser um daqueles que facilmente te
fazem se abrir, e dele não sai nada. Você não o conhece nem o pouco. Você sente
que não vai conseguir ir muito além do superficial. O nível de profundidade que
você vai quando fala de você, ele nunca se permitiria ir. Talvez pra analista
dele sim, mas nunca pra você. E ele é um enigma. Um enigma com um diagnóstico ruim
e que se você não tiver cuidado, vai arrastar você pela gravidade. E isso não
terminaria bem.
Não sei
se é minha sina de complicar tudo. De reclamar de tudo. Ou se apenas estou mais
uma vez me sentido superior a todos. Mas não vejo sentido na presa se permitir
conhecer pelo predador. Por mais simpático e interessante que o tubarão seja,
ele jamais poderia ter qualquer relação saudável com um peixe. Pois aquela
peixinha vai ser igual a todos os milhares de peixe que ele já devorou, o que
mudaria? Só existiria um tubarão na vida da peixinha, mas quantos peixes o
tubarão não já devorou ao longo da vida? Não faz sentido. Diagnósticos ruins
devem ir para o mesmo lugar que todos eles vão. Para longe, muito longe, para
não dar maiores dores de cabeça.