domingo, 4 de agosto de 2013

A menina que amava as pedras



Estava eu em um desses domingos comuns em que nada acontece, quando se olha absorta para um filminho meia boca na TV, enquanto a mente vaga sem rumo por lugares assim não muito aconselháveis. Lutava contra uma vontade louca e besta, que muitas vezes chega sem pedir licença, e tão rápido quanto vem também vai embora. Foi quando uma amiga chamou pelo chat pra falar de amores antigos. Ela reclamando dos antigos e eu naquele dilema duro que são os amores novos, os amores em potencial. Ela reclamava que não conseguiria mais amar o ex, então esperou por uma réplica minha. Não sei se foi minha mente que há uns bons minutos vagavam a pensar e a ponderar o imponderável. Não sei se por impulso. Nem sei se por puro desequilíbrio hormonal. Respondi então, aguda e seca, o que se segue.

Não sei você, mas eu morro de medo de uma doença que tenho. Uma doença louca que como um verme microscópico vem e se instala em algum lugar entre o coração e o meu estômago. E me dói. E me faz perder a fome. Mexe com meus nervos e agulha até o estômago! Essa doença consiste em uma propensão inata a amar facilmente e com uma intensidade insana, tudo ou qualquer coisa. Dessa forma, eu acredito que eu poderia amar até uma pedra. Se eu não me controlasse, poderia facilmente morrer de amores até pelos seixos do jardim! Eu nunca precisei de reciprocidade, de constância, de alimento pro amor louco que muitas vezes eu sinto. Assim, mesmo uma pedra dura e fria, que nunca poderia deixar de ser o objeto inanimado que é, com pouco esforço eu poderia sim me apaixonar.

E como isso é perigoso! E como eu tenho medo! Então passo os dias tentando me manter distante, me segurando para não arrebentar essa represa em cima de ninguém que não esteja preparado. Sem contar que não seria saudável para mim dar flecheiro em copo d'água de novo. Mergulhar fundo em pessoas rasas dá uma canseira danada. É doído, meu Deus, como é dolorido! E custa a passar... Os dias e anos se arrastam. E eu continuo insistindo nos barcos furados, esperando que um dia eles naveguem em paz no meu mar. Mas eles nunca irão. São pedras, afundarão e se perderão em mim, e de mim. Copinhos rasos frente ao meu oceano confuso e denso.

Amar assim tão fácil, é um perigo de extinção. Qualquer dia desses por desperdiçar amor assim aos tantos, como uma torneira que sangra noite e dia um líquido precioso, um dia ele pode acabar. Um dia meu oceano pode secar sem que ninguém tenha tentado navegá-lo. Cada um que veio, tirou pra si um punhado das minhas águas, do meu sal. Dei assim de graça toda a vida que havia em mim. Que cenário amargo, Deus. Livra de mim.

Mas é assim que tem sido a minha vida: to curb. Conter. Refrear. Restringir. Inibir. SUFOCAR. Guardar o amor para não desperdiçá-lo com as rochas da pedreira que é a vida.



Aldrêycka Albuquerque

2 comentários:

Raíssa França disse...

Acho que a música super combinou com suas palavras. De vez em quando sou tão intensa que tenho medo do amor, acho que somos assim. Suas palavras foram as mais belas possíveis. Meus parabéns!

Maria Flor disse...

Que texto massa.
Quem nunca se sentiu assim um dia?