domingo, 16 de outubro de 2011

[RESENHA] Ame o que é seu – Emily Giffin





Apesar do nome característico de livros de auto-ajuda, não é este o caso. Acredito que a escolha do título não tenha sido de fato muito feliz. E olhe que nem foi a versão brasileira, já que “Love the one you’re with” (Ame quem está com você) tem o mesmo ar clínico-terapêutico do título brasileiro. Passado todo o preconceito pela fraca escolha do título, vamos para o que interessa: o conteúdo. E esse aí sim, deu gosto de ler.

Versão em inglês - Love The One You're With
Como a sinopse fala, Ellen é casada com Andy, o esposo dos sonhos. Tem uma vida maravilhosa, mas um belo dia ela esbarra na rua com seu ex, Leo. Um encontro ao acaso (no qual todas nós estamos a mercê de vivenciarmos) faz Ellen virar a cabeça e começar a por em cheque seu casamento, sua vida e principalmente sua paz e felicidade pessoal. Um ex, num cruzamento, a fez questionar toda a sua vida. Deu pra sentir o quão grandioso é isso? Por mais fantasioso que pareça, por Deus, poderia ser comigo! Com vocês não?

Este livro é incrível por dar a sensação de que “poderia ser comigo”. Poderia acontecer com uma prima, uma irmã, uma amiga... Isso se cada uma de nós já não conhecer alguma mulher que já passou por isso! Não fosse o título ridículo, que já dá uma dica de qual a posição da escritora mediante tal encruzilhada amorosa, você tem medo da Ellen poder tomar a decisão errada. Se é que existe a possibilidade de rotular certo e errado nessas questões. Mesmo assim, a protagonista vai cometer erros e acertos que nos vão fazer vibrar, arrepiar e suspirar ao ler esse livro. Talvez de início você, como eu, pense: “Ah, mas eu não faria isso... Que frágil e fulgaz ela está sendo.”. Mas ao decorrer da leitura, você percebe a dimensão dos sentimentos dela, o quão Leo consegue mexer com o seu mundo e quanto o Andy a ama verdadeiramente, e ela também. É muito mais difícil que parece, e sim, provavelmente você cometeria os mesmos erros da Ellen, ou até pior. Quem sabe?

Emily Giffin
“Ame o que é seu” é uma leitura leve, instigante, cheia de dramas modernos que extrapolam “assuntos do coração”. Ele permeia questionamentos que vão desde o amor e o luto, até a felicidade, amizade e satisfação profissional. Sinceramente, achei um livro bem completo. Ele nos expõe às fraquezas e dúvidas que a maioria de nós temos e passamos, mas que muitas vezes subestimamos, ou jogamos para debaixo do tapete. É um livro instigador e reflexivo sem ser chato, moralista ou maçante. Enfim, é uma daquelas leituras obrigatórias. Recomendo muitíssimo.

Só uma reclamação: odiei essa de classificar este livro como "chicklit". Tenho meus motivos, já que odeio essa classificação, lê-se "romancezinho de mulherzinha afetada". Então, me recuso a aceitar que este livro esteja dentro dessa nova e pejorativa classe da literatura moderna.

  

Aldrêycka Albuquerque
Resenha feita para o Palavras Prolíferas. 

sábado, 15 de outubro de 2011

:: memórias e cansaços ::



 Vai Passar


Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca".

Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência. 

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. 

E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça. 

Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa. Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim: - "... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ..."

Caio Fernando de Abreu

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

...história da vida real...



Às vezes embarcamos numa vida repleta de acontecimentos tão importantes e tão intensos, que nada mais existe ao nosso redor. Entramos de cabeça numa sucessão de sentimentos egoístas onde nossas mágoas são as mais profundas, nossas feridas as mais doloridas, nossos amores os mais devastadores e nossa história a mais tocante. Daí no meio de uma multidão, ou enquanto você abre a página do Facebook, você percebe o quanto está enganada. O mundo está repleto de pessoas apaixonadas, pessoas mais felizes e mais tristes do que nós.  Pessoas com histórias mais doloridas ou muito mais tocantes. Pessoas desiludidas, outras transbordando de amor correnspondido. Aí você cai em si e percebe que o mundo não gira em torno de você e que existem inúmeras histórias deliciosas aí, prontas para serem apreciadas. Como essa linda história VERÍDICA do meu amigo André Valongeiro. Me emocionei tanto com ela que depois de enxugar as lágrimas, pedi autorização para publicá-la aqui no blog. Espero que vocês também gostem.


André Valongueiro e Shirlene Mafra



Há exatamente um ano e dois dias atrás, em 10/10/2010, embarquei com mais dois amigos para o Rio de Janeiro para assistirmos a nossa banda do coração: o Rush! 

Eu e Wagner tomamos os nossos lugares e, logo atrás de nós, Bacalhau sentou ao lado de uma mulher com ar de cansada e que nitidamente estava "puta da vida" por que nós não parávamos de conversar em volume um pouco mais alto e reproduzir passagens de músicas do Rush, batendo nas cadeiras e emitindo sons com a boca. Era a Dra. Shirlene Mafra, que, se não me engano, havia acabado de sair de um plantão e desejava apenas dormir tranquilamente no avião durante a viagem para o Rio de Janeiro, onde participaria de um congresso. 

Lembro claramente do comentário de Wagner: "Mago, essa doida aí de trás tá invocada com a galera!" Nós rimos e continuamos a bagunça assim mesmo! Bacalhau como cascateiro de "primeira linha" - ele, na verdade, é péssimo com as mulheres - logo tratou de colocá-la em nossa conversa. [Obrigado, Bacalhau! =D] 

Eu estava todo remendado: um dos braços completamente ralado, o outro recém-tatuado e com um um dedo do pé quebrado e enfaixado dentro do tênis, fruto de uma queda de bike no dia anterior. Quase perco o vôo nesse dia! 

Eu e ela conversamos muito pouco, mas fui muito esperto e consegui um endereço de e-mail em um momento apropriado da conversa. E na segunda-feira seguinte, quando fiz login aqui no Facebook, ela já havia me adicionado e logo em seguida começamos a conversar no chat. 

Eu havia dito o meu nome completo uma única vez durante uma brincadeira no avião e ela o havia memorizado. Me achei o fodão! [hahaha] Marcamos um cinema no dia seguinte e o resto da história foi o tradicional: "começamos a namorar, tivemos momentos incríveis, viajamos juntos..." Também apresentei a ela o poderoso e devastador Death Metal e tentei mostrá-la o quanto Maria Gadú é "xarope", assim como 90% da nossa MPB atual. [hahaha]

Hoje, 12/10/2011, um ano e dois dias depois do episódio do avião, ela está indo embora. Moçambique é o seu destino e a sua missão é auxiliar portadores do HIV a, de alguma forma, viverem melhor. Missão épica e brutalmente respeitável! Estou tão triste quanto orgulhoso. E para acalmar um pouco o espírito, resolvi escrever esse longo texto, pois escrever me faz muito bem! =) 

Assim é a vida. E não é sábio querer lutar contra tudo. Desejo a ela toda felicidade e sorte do mundo, com toda sinceridade que possuo! As pessoas que a esperam em Moçambique sem dúvida precisam dela muito mais do que eu. Eu vou me virar sozinho! Combinamos que esse não seria um "adeus", mas um "até logo". Um "até logo" que certamente custará a passar, mas que certamente passará! A minha querida namorada Shirlene Mafra vai me fazer falta, muita falta, mas eu vou me virar sozinho! 

Essa foto estava "perdida" em meu celular. A qualidade é péssima, mas lembro que ela foi tirada aqui em casa, na primeira noite em que ela esteve aqui para me buscar e sairmos juntos para jantar. 

...Histórias da vida real! Há milhares delas por aí, mas acho a minha bem interessante.


André Valongueiro



O texto original foi postado pelo André AQUI
E vocês podem acompanhar alguns dos textos dele neste link: http://www.valongueiro.blog.br/   

Uma carta à minha infância

Eu, em 1989, 2 anos.


Cara pequena,

Não perca tanto tempo planejando o implanejável, permita-se surpreender.

Não se cobre tanto, pelo menos não o tempo todo. Isso ao tempo que te faz melhor, também te desgastará com o passar dos anos.

Não segure as lágrimas quando elas vierem, mas tenha certeza que elas não são pelos motivos errados, pelas pessoas erradas.

Viva sua idade, não perca tempo desejando ser mais velha. O futuro não aguarda nada de fenomenal além daquilo que você anda plantando hoje, enquanto se sente desejosa pelos anos a frente.

Você SEMPRE será diferente. Aos 3, aos 8, aos 12 e também aos 23. Tentar se misturar a multidão, além de desgastante, será trabalho perdido. Aceite suas diferenças e conviva com elas de forma amigável. Não demore tanto pra entender isso.

Em certas coisas, você vai demorar mais tempo que os outros para vivenciar. Nada que você possa fazer vai mudar isso. Na verdade, é melhor que não tente mudar mesmo. Mas não se desespere, isso não vai te fazer melhor ou pior que ninguém. Só diferente. E isso não é ruim. Só diferente.

Cuide bem do seu coração. Não o entregue assim facilmente, não acredite assim tão piamente e, principalmente, não seja assim tão extremista. Do ódio até o amor existem nuances que podem valer a pena serem exploradas.

Quando aquela sua velha tristeza chegar perto, não ignore-a. Trate-a bem. Tente entendê-la, pois você irá ter que conviver com ela ainda por muitos anos.

Pare de discutir com o espelho, tudo tem seu tempo. Com os anos você vai passar a se aceitar, cada vez mais um pouquinho. Não vale a pena o desgaste, se com o tempo tudo se resolve.

Cuidado com as amizades. Se elas te cobrarem ser algo que você não é, nem quer ser, abra mão delas e siga em frente sozinha. Vá se acostumando, que sozinha você será por muitos anos.

Meta a cara e saia sozinha. Não espere a companhia de ninguém. O mundo não é tão assustador quanto parece. E a sensação de solidão no meio da multidão não é assim tão devastadora. Tem até sua beleza.

Controle seus instintos. Eles podem te trazer arrependimentos e embaraços sem tamanho.

Por mais maravilhoso que possa ser o futuro que você vai ter, ele nunca terá as cores, o aroma nem todo esse brilho que você sonha. Não quer dizer que você vai se frustrar, mas tente não desejar tanto. Não tão perfeito. Pois nada do que você vai planejar vai acontecer como você quis, ou no momento que você pensou. Mas no final tudo vai dar certo. Só não da forma que você pensou. Então não aposte tão alto assim neste futuro que você conjectura. Prefira viver melhor o seu presente.

Enfatizando ainda mais: viva bem hoje, para que vinte anos depois você não olhe pra trás e veja um monte de anos borrados, corridos, sem fôlego e sem muito sentido.

Você não é responsável pela sua família. Eles é que são responsáveis por você. Você não tem idade nem a obrigação de levar a estrutura psicológica de uma família inteira nas costas. Então, quando você se cansar de escutar, grite. Quando não quiser mais se calar, fale. Eles não são de vidro e você não é um poço fundo onde qualquer um pode chegar e jogar suas lamúrias. Você já tem seus problemas. Não compre os problemas de mais ninguém.

Nada na sua vida é permanente, então pare com essa mania besta de andar com sapatos de lã pelo cascalho. Fale o que pensa e duvide dos outros. Acreditar demais só vai te trazer prejuízos.

Você é chata por natureza mas com os anos isso vai atenuando. Então não se cobre tanto, não acredite quando sua mãe falar que você é insuportável. Você já suporta o mal humor de todo o mundo, então tem todo o direito de ser chata quando der na telha. Isso não vai te fazer uma pessoa pior. Com o tempo você vai entender seu mundo e a convivência será um troço mais fácil.

Dezessete não será uma idade mágica. Assim como vinte e três também não. Nenhuma idade é mágica. A cada ano acontecem maravilhas e desgraças em igual dose. Não se encante nem se venda pela possibilidade de um futuro melhor, mais  bonito ou alegre... Tente fazer isso hoje.

Quando te disserem que te ama, duvide. E quando disserem que te odeia, acredite. Não insista em ninguém. Ninguém. Siga em frente como você sempre fez. Com o tempo, toda dor passa.

Ainda sobre dores: nenhuma dor é tão grande que você não possa suportar. E nenhuma vai durar um segundo a mais que o tolerável. Elas passam. Por mais terríveis e permanentes que pareçam ser. Elas passam e depois não sobra nem o nome, ou a cor dos olhos. Passa e você nem sente falta depois.

O seu conceito de liberdade e independência estão furados. Encontre outro.

E o principal: faça seus planos e viva sua felicidade sozinha. Não espere por ninguém que não vai chegar. Se concentre na sua felicidade unitária. As demais coisas podem ser acrescentadas depois disso.


Aldrêycka Albuquerque

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

...I'm vanishing

"You become more beautiful every year. Every grey hair, every line... Everything that happens to you makes you so much more desirable and I feel like if you would blow on me, I'd vanish, I'd disappear. I felt so invisible, so old."
Trecho do filme Chloe (O Preço da Traição)
"Você a cada ano está mais lindo. Cada cabelo branco, cada marca de expressão... Tudo que acontece com você te deixa mais atraente; e eu sinto como se você soprasse em mim, eu desapareceria. Me sinto tão invisível, tão velha." 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

20 anos depois. 2 pessoas... Um dia.



Lembro muito bem. Lembro claramente do barulho da corrente de espinhos que me prendeu a ele. O dia, talvez não precisamente. O momento do gatilho que fez meu coração parar, talvez eu não saiba dizer exatamente. Mas lembro do sorriso, de quanto o vi pela primeira vez, do evento desencadeador de tudo o que fomos, e somos hoje. Não quero esperar vinte anos pra viver UM DIA. Preciso viver agora, com o que tenho. Preciso me virar sem ele. Desatar as correntes. Urgentemente.


Dica de LIVRO e FILME.

domingo, 2 de outubro de 2011

Setenta e tantos



O efeito de uma lente indiscreta



Eu que por anos venho implorando ao teus pés que me ame, que me aceite como sou.
Amando cada expressão tua, cada fio do teu cabelo, cada tom da tua voz.
E eu que por tanto tempo vim te amando, te aceitando com todos os teus defeitos.
Decorando cada palavra tua, cada música nossa.

Eu que por tantas noites procurei a lua na tua ausência,
Torcendo para que estivesse cheia e trouxesse tua sanidade de volta.
Amarguei cada noite sem luar, cada letra sem melodia, cada olhar vazio seu.
E eu que me alimento ainda mais da sua ausência do que da tua constância.
Cresci meu amor por todos os lugares onde você não estava, te deixando cercado.

E você que me pediu pra te deixar. Você que diz que já não ama, já não pensa, já não sente.
Me cercou te todo amor e desejo que pôde me incitar. Depois foi embora.
E eu que construí um castelo com todo amor que consegui extrair destes anos todos à tua espera.
Construí pra que você o destruísse.
Construí cada um dos meus sonhos pra que hoje você pudesse cantar uma música sem sentido pra mim, depois virar as costas e sair sem data pra voltar.

Exagerei nas palavras, no que sentia, no que via através dos teus olhos.
Construí um você pra mim, diferente de tudo o que você um dia já supôs ser.
E eu que era segura de mim, que não me entregava em águas turbulentas ou barcos naufragados,
Fui ser tua sem permissão.
Me passei por louca, infantil, imbecil e apaixonada.
Escutei mais algumas dúzias de palavras duras e humilhantes.
Daquelas que vez por outra você diz, e que em pouco tempo eu as subestimo e esqueço.

E eu que mais uma vez dei espaço para você se sentir livre para ir embora e voltar quando sentisse minha falta.
Ou pelo menos quando te desse na telha.
Também fui embora e tranquei a porta, mas deixei a chave reserva naquele lugar de sempre.
Torcendo pra você aparecer naquelas noites chuvosas, com o cabelo pingando e sem muitas palavras ou justificativas.
Simplesmente voltar. Por mais alguns dias, uma noite...
Até você por abaixo o que resta desta minha construção. Deste amor que construí sozinha.
Amor que te espera, que sofre, que me dá enjôo. Amor que te perdoa, mas nunca é perdoado.
Meu amor que é imenso como o oceano, mas que sempre se perde ao som da tua voz.

E enquanto você me pede pra ir embora, pra que eu me livre de você, eu estou sentindo teu cheiro doce.
Estou lembrando das tuas mãos nas minhas. Teus ombros, teus braços...
E por mais que você me diga que existam tantas outras, e que tua cama nunca permanece fria por muito tempo,
Ou que teus lençóis trazem paixões e perfumes mil, eu não te escuto.
Eu finjo que isso tudo é prova pro amor que construí, e te deixo ir embora mais uma vez, já imaginando o dia que você estará de volta.

Devo ser doente - não apenas louca ou infantil.
Devo te amar mais que a mim, e isso é que está me envenenando e me afastando de você.
Isso quer dizer que se um dia eu deixar de te amar, não foi porque você me pediu,
Nem por eu ter [enfim] queimado o que restou do nosso castelo de mentiras.
Eu só deixaria de te amar depois de tomar meu próprio veneno por tempo demais.
Quando toda essa dor de não te ter por completo, acabar de vez comigo.
É quando vou deixar te amar.
 Até lá, deixarei a luz da salinha acesa. A chave debaixo daquele vaso na varanda.
Volte quando estiver pronto pra ser amado sem reservas.



...setenta e tantos motivos pra não falar mais dele...