Nesta passagem de ano dei adeus aos costumes.
Não mais fiz a velha lista de pedidos.
Não espero nada pro próximo ano.
Só espero que ele me surpreenda.
Que ele extrapole o pensamento.
Que ele seja magnífico.
Para isso, seria pouco se eu desejasse.
Seria pouco se eu planejasse.
Seria ínfemo se eu pedisse.
Assim, só vivo.
Nem espero.
Vivo.
Em um ano que se começa um novo ciclo, mesmo o medo batendo à porta, tenho paciência.
Espero o friozinho da barriga passar.
Ignoro minha falta de direção.
Nem quero saber se estou meio perdida.
Muito menos se estou sozinha.
Se não tenho mais meus amigos por perto.
Se não voltarei a ver pessoas que tanto amo.
Isso de nada importa.
Pois é assim que a vida é.
Ela te dá, depois toma.
Ela vem, depois vai.
Você não pode se apegar a pessoas, coisas, dinheiro, nada.
Pois tudo passa.
E passa, passa, e você fica.
E assim você se constrói.
E mesmo sem bússola continuo navegando.
Confiando no meu mestre que dorme tranquilamente no porão do navio.
Na verdade, ele está a tirar um cochilo.
Esperando o momento certo de vir acalmar o mar.
Vou seguindo.
Pois quem sou eu pra dizer o que é o melhor pra mim?
Eu só enxergo o agora, o hoje.
Sou pequena, fraca e indefesa.
Nada que eu possa imaginar poderia me surpreender, extrapolar.
Assim... vou vivendo. Sem esperar, só respirando. Vivendo.
Às vezes parece até que a gente deu um nó
Hoje eu quero sair só
Não demora eu tô de volta
Vai ver se eu tô lá na esquina, devo estar
Já deu minha hora e eu não posso ficar
A Lua me chama, eu tenho que ir pra rua!
Lenine - Hoje eu quero sair só