"Mereço ser amada do jeito que sou!"
Sim, sou da geração Sex and the City. Aquela que é a favor do sexo sem amor, da liberdade de expressão, da independência feminina e do desapego emocional. Só não descobri, ainda, se isso é bom ou ruim. Atormentada pela chegada dos 30, vivo um conflito interno: como estar em um relacionamento sem abrir mão de toda a minha independência?
Minha mãe, que abdicou de seu futuro educacional e profissional em prol do casamento e acabou levando um belo chute do marido, me criou para ser uma mulher forte e sem amarras. Ela me ensinou a andar com as próprias pernas, a lutar pelo que desejo e a não baixar a cabeça para ninguém. Como boa filha que sou (há controvérsias, eu sei, mãe!), aprendi a lição. Tenho muito orgulho e satisfação de ser dona do meu nariz e do maravilhoso poder que é mudar de idéia quando quiser. Resultado: virei uma repelente de homens! Bem, pelo menos é exatamente assim que me sinto. Começo a crer que minha mãe errou em ocupar o meu tempo com cursos de inglês, informática, natação, ginástica olímpica, aulas particulares de matemática (muitas!) e até com sessões com uma psicóloga. Talvez tivesse sido melhor aprender a ligar a máquina de lavar, a desmontar o aspirador de pó, a decifrar produtos de limpeza ou a engomar camisas masculinas.
Exagero? É incrível a quantidade de vezes em que já ouvi: “Se continuar desse jeito, não vai ficar com ninguém”. É revoltante a quantidade de homens que ainda preferem as mulheres frágeis, carentes, submissas e emocionalmente dependentes, aquelas que fazem o gênero “mulherzinha” mesmo. Eu não sei ser assim! Sem falar naquelas que engravidam “sem querer”. Desejo ter filhos, claro, mas recebi aulas de educação sexual e sempre tomei muito cuidado com meu corpo. Por alguma razão misteriosa, sinto que sou a única. E isso é péssimo! Até parece que eu sou a errada. E o fato de estar só, é apenas um castigo por ser tão responsável.
Adoro sair com os amigos para um barzinho, fazer noitada com as meninas, ser sociável e esbanjar disposição. Sou fã de uma cervejinha gelada, curto dançar, dar gargalhadas e adoraria que todas as minhas noites terminassem com sexo bem gostoso. Amo não fazer planos, mas tenho sempre vários compromissos e gosto mais ainda de fazer o que me agrada. O que há de tão assustador nisso? Considero que alcancei a maturidade, tanto do ponto de vista emocional como do profissional. Momento ideal para encontrar um cara que esteja na mesma sintonia que eu e, finalmente, ter uma vida a dois ou, quem sabe, a três ou a quatro (uma família numerosa me encanta). Será pedir demais?
Há anos, desisti de encontrar o príncipe encantado e passei a pedir em minhas preces um moreno, alto, bonito, sensual, lindo, fiel, gentil e tarado. Concluí que era demais e fui reduzindo as expectativas até que só gentil e tarado estava de bom tamanho. Foi quando tive um insight: chegou a hora de rever alguns conceitos. Mereço bem mais do que ser só o “lanchinho da madrugada”. Hoje, penso que o respeito deve ser a base de qualquer relação e procuro reciprocidade. Estou disposta a adaptar meu estilo de vida e manter um relacionamento tranqüilo, baseado na amizade, na sinceridade e na cumplicidade. Procuro uma boa companhia para momentos divertidos, que respeite meu espaço e meu jeito de ser, da mesma forma que pretendo retribuir. Não está sendo fácil, mas não perco a fé de que estou quase chegando lá.
Dalila Magarian (escritora e repórter)