Último conjunto de palavras aleatórias de 2010. Só mesmo a falta de energia pra me fazer escrever em meio a tempos tão insossos. A bateria do notebook segura alguns minutos, mas sem internet... E computador sem internet é um completo caos. Daí resolvi vir aqui escrever [pra só depois postar]. Nem sei onde foram parar as páginas que escrevia no meu outro computador quando momentos de inspiração apareciam. Devem ter desaparecido no cyber espaço junto com meus HDs e Placas Mãe que se derreteram por falta do “fio terra” aqui na instalação elétrica. Deve ter sido por isso que criei um blog. Pura segurança, backup para meus textos enfadonhos, dúbios, infantis e extremamente pessoais.
Ao pensar em vir aqui escrever, imaginei logo sobre que aspecto dele eu iria dissertar. Daí eu lembrei que nenhum, não tenho razão para falar dele, já que eu estou começando [de novo] a me desapegar desse carma. Se bem que analisando friamente o caso, ele é apenas uma criação da minha memória. Na verdade ele não existe. Lembram daquele filme “Uma Mente Brilhante”? Quando já no finalzinho temos o maior susto ao descobrir que o tal colega de quarto do John Nash nunca existiu? Era apenas criação da mente brilhante e esquizofrênica dele? Pois é. Não que eu seja esquizofrênica [Deus me livre] acredito que já passei da idade desse “verme” se alojar na minha mente [ok, verme foi uma forma de falar] – a maior parte das pessoas que sofre desta doença apenas apresenta sintomas após a puberdade. Pois é, acredito que estou inclusa na parcela de pessoas que não nasceram com esse problema [amém]. Mas o fato é que eu acho que eu criei ele na minha cabeça. Não o verme da esquizofrenia, mas o verme do meu carma.
Só um verme, um parasita, se alimenta de você. Vive em você, mas não para te ajudar a crescer, a ser forte; mas para parasitar, sugar o sangue que é seu, se infiltrar nas fantasias que são suas, usurpar os sonhos que são seus... Pois é. O verme que se alimentou três anos da minha mente, da mesma forma simples que entrou, ele saiu. Talvez eu tenha o matado. Talvez ele tenha ido embora por não ter mais o que comer. Sabe? Acho que o fenomenal nisso tudo é você sair disso jogando o cabelo pra trás e falando “eu superei”. O fantástico é você lá no fundo saber que esse foi o curso natural dos fatos. Você insistiu até onde podia, você enlouqueceu até onde a loucura te permitiu, você errou em tudo que poderia ser errado, você foi reprovada em todos os testes nos quais fora submetida. Mas você sorri, mexe no cabelo e fala que superou, que hoje é nova pessoa, que agora é mais esperta. Que nada!
Não tarda a Terra virar e você estar lá cometendo os mesmos erros. Com outros rostos, outros corpos e bocas, mas exatamente os mesmos erros. Sempre o excesso, seguido da inconseqüência, da eterna insistência e por último o fundo do poço. O mesmo percurso que você percorreu todas essas vezes, bateu lá no fundo do poço e machucou a testa; você vai lá e faz tudo errado de novo. É impressionante! Se bem que ninguém admite. Ninguém admite que ficou com B com saudade de A. Que se envolveu com C pra esquecer de B. Que deu pra D pra ver se libertava [enfim] de A. E se casou com B porque A não te quis, C desapareceu e D não te quer ver nem pintada de ouro. Pois é. Mas você tá lá no altar, “linda e loira” jogando o cabelo e dizendo EU VENCI. É, e tem gente que acredita. O pior é que tem gente que acredita que todo aquele glacê no bolo, todos aqueles bem-casados embrulhados e toda essa brancura do seu vestido é amor. Não é desespero, não é decisão errada, não é precipitação, não é reação a uma sociedade [machista] opressora. Não, “é amor”.
Daí o cara vai lá e mata a noiva, o amigo e se mata no meio de seu próprio casamento. E meio mundo de gente fica chocada, traumatizada. Pelo amor de Deus, desde quando casamento foi [ou é] garantia de felicidade? Nem felicidade atual, nem futura. O que traumatizou essas pessoas não foram três pessoas mortas. Foi uma cena dessas ter acontecido num casamento, onde todos deveriam [por lei] estarem felizes e apaixonados. Desculpem acabar com o sonho cor de rosa de vocês, mas assim como há sexo sem amor, há casamento sem felicidade, beijo sem vontade... O mundo é mais podre e mais oco se você analisar tudo de uma ótica mais perversa.
Mas como eu dizia, eu não superei foi nada. A verdade é que ele sumiu da minha vida, e me deu a grande satisfação de perceber o óbvio: eu sei viver sem ele. É furada essa de você dizer que não vive sem o outro. Nem se você tivesse nascido gêmeo, ia significar que você não vai viver sem seu irmão. Quanto mais um cara que não nasceu junto com você, não cresceu com você, que você conheceu um dia desses, mas que agora você diz que é “a sua vida”. Nunca. Você vive sem ele sim. Viveu bem até conhecer ele, como que agora não consegue mais? Consegue sim.
Também percebi que eu estava superestimando o que eu sentia. E eu acho que é isso aí. Aqueles amores de novela, arrebatadores, aquelas mocinhas virgens chorando e se descabelando por um amor que ela acha que é sua vida, isso tudo, é um pseudo-sentimento. É tudo abobrinha, nós criamos, foi fruto da nossa criatividade. O amor é o que a gente pinta. O que a gente cria. Super-estima ou sub-estima. Ele é o que a gente quiser que ele seja. Então se você fizer os cálculos ele só existe pra quem quer. Ou seja, ele é o nada absoluto. Até que alguém vai e soma frio na barriga, com precipitação, com exagero, com hormônios [muitos hormônios] e pronto. Do zero absoluto foi feito o amor. Ou o pseudo-amor. O resto é a realidade. Tudo por baixo desta casca que a gente pinta e dimensiona, é a realidade. O resto é pura ficção. Daí eu respondo: é a arte que imita a vida, não o inverso.
Esses clichês, essas modinhas, esses amores impossíveis, arrebatadores, sempre existiram. E foi a arte que os imitou (talvez mais ou menos açucarado dependendo do autor). Mas a verdade é que isso tudo é criação humana. Pura utopia para não se digerir a existência do zero absoluto. Tudo é artifício para mascarar a necessidade humana de reprodução. Com a evolução da espécie, nós humanos precisamos nos tornar mais seletivos e assim nos tornar uma raça mais forte. Daí essa “melhor seleção” foi trocada por casamento, amor, paixão, o que for. Na verdade, querida, são só seus hormônios dizendo que para ter uma cria mais forte você deve copular com B e não com C. Se você vai querer colocar uma grinalda e chamar um padre para atestar uma decisão que as células do seu corpo tomaram, você tem todo o direito. Só depois não vai querer jogar o cabelo pra trás e dizer que o amor acabou e que você seguiu em frente. Na verdade, ele só deixou de ser seu parceiro ideal, uma vez que seus hormônios estão querendo “carne nova” no pedaço. É tudo questão de química, arte e um pouco de sarcasmo.
Aldrêycka Albuquerque
Aldrêycka Albuquerque