quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sobre a vida que deixei lá no meu quarto



E se eu não tenho que me levantar assim tão cedo, e deixá-lo esparramado na cama que até parece dele? Por vezes com o braço pra fora dela, enquanto o meu cachorro (que pensa que é dele) funga na sua mão pendurada. Ah, se eu não tenho que acordar cedo e ver tal cena.

Se eu não precisasse sair da cama quente, agora ainda mais quente depois que apareceu essa costela pra eu chamar de minha. Quando foi mesmo que ele apareceu como se nada quisesse, e tomou pra si minha casa, meu cachorro e meu coração? Qual foi o momento exato que bater de levinho na porta da frente passou a dispensar licenças e embaraços? Quando precisamente foi que ele passou de visita para necessidade diária, assim como cafeína pra mim?

Mas ah, como é difícil levantar assim cedinho. Fico na beira da cama assim, anestesiada, por tanta doçura ali respirada. Nenhuma câmera conseguiria fotografar o momento, o exato momento que a nuvem sai desenfreada da frente do Sol, passa façeira pela fresta da janela e toca o ombro e as costas dele, como quem beija assim afoita. Então me lembro na hora daquele poema que diz assim "ah, que ciúmes tenho do vento, do Sol... que pode te visitar e te tocar quando bem entende". E foi com esse misto de satisfação, melancolia, extrema felicidade e um tico de ciúmes, que eu me levantei. Saí da cama pé-ante-pé para não acordar nem ele nem meu cachorro, que agora já tinha pulado na cama e se enfiado pelas cobertas.

Depois do café tomado, ainda assistindo pelo espelho, o quarto através da porta entre aberta, fui andando até a janela. Não ousaria acordá-lo num dia tão lindo se não fosse para passá-lo ao meu lado. Ainda com esse pensamento egoísta nas pontas dos dedos, desci as escadas satisfeita. Sabia bem o que diziam os sábios, deve-se rapidamente perdoar o egoísta, uma vez que para este defeito não se tem cura. Não tinha mesmo. Nem cura pro egoísmo nem pra toda vida que eu acabara de deixar lá no meu quarto.


Aldrêycka Albuquerque


2 comentários:

Iêda disse...

Achei lindoooo, nada de maluquices.

Te amo amiga, tô com saudade.

Vamos almoçar quando????

Bjs.

Iêda

Maria Flor disse...

Tao gostoso de ler :) Amei!