domingo, 16 de agosto de 2009

O Amor & O Tempo (3/3)



A agitação que apenas um instante provocou em Anne foi quase inexprimível. A carta, endereçada à “Senhorita A.E.” (Anne Elliot), deveria ter sido escrita por Frederick Wentworth enquanto ela e o capitão Harville conversavam. Ela deixou-se cair na cadeira da escrivaninha e seus olhos devoraram as seguintes palavras:



“Já não consigo mais permanecer em silêncio. Tenho de lhe falar pelos meios ao meu alcance. Anne, você trespassa-me a alma. Sinto-me entre a agonia e a esperança. Não me diga que é muito tarde, que sentimentos tão preciosos morreram para sempre. Declaro-me novamente a você com um coração que é ainda mais seu do que quando você o despedaçou há oito anos atrás. Não diga que o homem esquece mais depressa que a mulher, que o amor dele morre mais cedo!

Eu não amei ninguém se não a você. Posso ter sido injusto, posso ter sido fraco e rancoroso, mas nunca inconstante. Vim para esta cidade unicamente por sua causa. Os meus pensamentos e planos são todos para você. Não reparou nisso? Não se apercebeu dos meus desejos? Se eu tivesse conseguido ler os seus sentimentos, como creio que você deve ter decifrado os meus, não teria esperado tanto tempo.

Mal consigo escrever. A todo momento ouço algo que me emociona. Você abaixa a voz, mas eu consigo ouvir os tons dessa tua voz mesmo quando os outros não conseguem. Criatura muito boa e pura! Porém, faça-nos, de fato, justiça, ao acreditar que os homens são capazes sim, de um verdadeiro afeto e uma verdadeira constância. E creia que esta, é fervorosa e firme em F.W.”

Tenho que ir, inseguro quanto ao meu futuro.
F.W.





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Esta é a terceira (1/3; 2/3; 3/3) e última parte de três trechos adaptados , do livro da Jane Austen, "Persuasão".

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