Bem, ontem estava lendo a revista VEJA (ed. 2020 - ano 40 - nº 31 - 08/08/2007). Abre parênteses gigantesco (Sem hipocrisia, a revista é muito boa, mas não tenho paciência para ser uma leitora assídua. Pra quem não entendeu, deixa eu só esclarecer que a VEJA, assim como a EXAME deve ser a revista de cabeceira de um bom administrador. Já que eu não dou a mínima para esses esteriótipos ridículos, e só dei R$ 8,50 (que absurdo!) nesta revista por que um professor exigiu um resumo de uma reportagem, prefiro ficar sem ler. Na realidade, acho que elas fabricam notícias, floreiam demais e querem ser as donas da verdade.)
Mas voltando para o assunto inicial, quando eu estava a folheando, vi uma entrevista com uma mulher chamada Wilma Magalhães. Podem me chamar do que quiserem, mas nunca ouvi falar dessa aí (vai que é pq não leio a VEJA), porém me chamou a atenção o título da reportagem, que me fez ler até o final da entrevista e ainda me fez dar umas boas risadas.
Espero que vocês tenham um pouquinho de paciência e dêem uma lida. É incrível como tem gente que vive no mesmo mundo que o nosso, porém numa outra realidade ou dimensão, ou sei lá o quê!! Ao final, se fosse possível, queria que vocês se posicionassem quanto as atitudes (pra mim arrogantes) desta "salafrária" e me digam se a cadeia para ela está servindo pra alguma coisa.
Bjus para todos! Boa terça-feira!!!
VEJA ENTREVISTA: WILMA MAGALHÃES
A cadeia é uma festa
A vida de presidiária da socialite que sacudia Brasília com festas de arromba e jantares temperados com pó de ouro
Alexandre Oltramari
Hoje, a socialite Wilma Magalhães, de 45 anos, é uma submergente. Filha de um garçom e de uma dona-de-casa, Wilma enriqueceu no início dos anos 90 ao montar duas emp
resas (câmbio e factoring) no ramo de, digamos assim, prestação de serviços. Principal símbolo do colunismo social de Brasília, a então emergente Wilma desfilava roupas de grifes caras, costumava ser vista a bordo de carrões importados e recebia em sua mansão alguns dos principais políticos do país, a quem servia faustosos jantares regados a champanhe e temperados com pó de ouro. A casa de Wilma caiu há dois meses. A socialite foi condenada a uma pena de seis anos de prisão sob a acusação de ter montado um esquema criminoso para legalizar propinas recebidas por um dos principais símbolos da corrupção nacional, o ex-deputado João Alves, um dos célebres anões do Orçamento. Divorciada, mãe de dois filhos, Wilma teve de trocar a vida de badalação por uma cela do tamanho do lavabo de sua casa. Depois de uma temporada em regime fechado, ela foi liberada para trabalhar de dia. Todas as noites, porém, volta para o xilindró. Baixo-astral? Que nada. Wilma continua saltitante. "Sou chiquérrima", diz ela, sem perder a pose.
Veja – Dá para ser chique morando na cadeia?
Wilma – Dá, sim. Fiz um enxoval para levar para a penitenciária. Não pude comprar pessoalmente, mas encomendei tudo. Toda a minha roupa é branca. Comprei calças de moletom e blusas branquinhas, calcinhas novinhas, sutiãs novos, cobertor novo, tudo novinho. É óbvio que quando eu sair de lá não quero levar nada. Vou doar tudo. Sou chiquérrima. Todo mundo adora quando eu chego. As funcionárias abrem uma porta bem pequena que tem na cela para perguntar se eu quero remédio. Sei que fazem isso só para me ver.
Veja – Seu lema, antes da prisão, era "A vida continua uma festa". Continua?
Wilma – Continua. Domingo fiz um programa diferente na penitenciária. Encomendei uma lasanha e um suco de uva. A lasanha era de caixinha. Esquentei no microondas. Imaginei que estava comendo a lasanha na Itália e bebendo um vinho tinto caríssimo em Bordeaux. Fiquei muito feliz.
Veja – O que a senhora sentiu ao ser presa?
Wilma – Fiquei muito assustada quando a polícia apareceu na minha casa, no Lago Sul. O policial falou que havia uma ocorrência sobre um laptop. Ele me mostrou um papel. Quando fui pegá-lo, recebi ordem de prisão. Eu havia acabado de voltar da academia. Ainda estava com a roupa de ginástica. Não entendi o que estava acontecendo. Nunca pensei que fosse ser presa. Pedi ao policial que me acompanhasse até o closet. Aí coloquei uma calça e uma blusa sobre a roupa da academia. No caminho, ele me disse que podia ter ido me buscar com uma viatura e me algemado, mas, por consideração a mim, estava me conduzindo daquele jeito. Agradeci.
Veja – Como é a sua rotina no presídio?
Wilma – Eu me dei o direito de me sentir em um spa, sabe? É como se estivesse me tratando de um problema em um hospital. Todos os quartos têm televisão e chuveiro elétrico. Minha cela, que divido com outras duas presas, é um pouco apertada. Tem o mesmo tamanho do lavabo da minha casa. Mas as guardas parecem enfermeiras, de tão limpinhas e arrumadinhas. Até um mês atrás, quando eu não podia sair de lá durante o dia, eu acordava às 7 e meia da manhã. Tomava café, via televisão e ia para o pátio tomar sol. Era pouco tempo, cerca de quinze minutos, mas dava para fazer ginástica ou simplesmente deitar e ficar viajando. Depois, almoçava, dormia muito à tarde, tomava banho e voltava a ver um pouco de televisão.
Veja – Mas deve ter sido muito difícil trocar a vida confortável que a senhora tinha por uma cela na penitenciária, não?
Wilma – Não. Vou dar um exemplo: dias atrás, quando voltava para o presídio, liguei para uma amiga. Ela estava chorando porque não arrumava namorado. Ela é linda e bem de vida. Essa tristeza que existe no coração de algumas pessoas não existe no meu.
Veja – Qual é a pior situação que a senhora enfrentou na cadeia?
Wilma – Nada pode na penitenciária. No começo, eu não entendia por que não podia. Um grampinho de cabelo do tamanho de uma formiguinha eles não deixam entrar porque é perigoso. Todos os meus sutiãs, que são da grife Victoria's Secret, têm arame. Não pude levar nenhum. Tive de comprar tudo novo. Também quis levar um repelente elétrico para espantar mosquitos e não pude. Nenhum dos meus xampus italianos pôde entrar. Eles dizem que tudo é perigoso. Só permitiram a entrada de meus cremes da Victoria's Secret porque as embalagens são transparentes. Também é constrangedor tirar a roupa para a inspeção toda vez que chego lá. Se eu soubesse que seria tão revistada, que usaria tanto este corpo, teria feito uma plástica antes.
Veja – A senhora está cumprindo pena num país em que rico praticamente não fica na cadeia. Não se sente injustiçada?
Wilma – Bobagem. O Paulo Maluf ficou mais de um mês na cadeia. O Edemar Cid Ferreira, dono do Banco Santos, também. Rico, quando pode, esconde que está na cadeia. Diz que está passando uma temporada no exterior. Pobre, em dia de visita, transforma a cadeia numa festa. Vai filho, vai primo, vai tio... Você acha que rico vai visitar outro rico na cadeia? Não vai. Fica esperando ele sair.
Veja – A senhora se sentiu discriminada na cadeia pelo fato de ser rica?
Wilma – Não. Ao contrário: as detentas adoram o fato de eu ser socialite. Elas dizem que, se tivessem o dinheiro que eu tenho, pagavam o melhor advogado e não ficavam presas nem mesmo por um minuto. Mas a minha situação na cadeia não está tão ruim assim para ficar gastando dinheiro à toa. Um advogado me disse que liberdade não tem preço. Tem, sim. Acho melhor cumprir a pena do que entregar a ele quase tudo o que ganhei na vida.
Veja – A senhora foi condenada pela acusação de lavar 10 milhões de reais para o ex-deputado João Alves, um dos integrantes da Máfia do Orçamento, denunciada por VEJA em 1993. Como conheceu o ex-deputado?
Wilma – Nunca vi o ex-deputado na minha vida. Comprei e vendi dólares de um gerente de banco. Não tinha idéia de que era dinheiro de caixa dois, de esquema de anões do Orçamento. Conheci o ex-deputado pela mídia.
Veja – Que lições a senhora tirou desse episódio?
Wilma – Os políticos têm de amadurecer. Têm de aprender que é preciso pagar pelos seus erros. Eu estou pagando porque fiz errado mesmo. Trabalhei vendendo dólares sem autorização do Banco Central e fui punida por isso. Ponto.
Veja – Como a senhora se tornou a mais badalada socialite de Brasília?
Wilma – Meu pai calçou o primeiro sapato aos 18 anos. Ele era garçom de um hospital público de Brasília e conseguiu que minha mãe fosse fazer o parto lá. Comecei a trabalhar aos 15 anos. Era caixa de uma loja de pneus. Ninguém me indicou para nada. Bati de porta em porta até conseguir o emprego. Aos 18 anos, comprei meu primeiro carro, uma Brasília laranja. Cada centavo que ganhei foi com muito esforço. Não tenho vergonha de não ter tido dinheiro no começo e estar bem financeiramente agora. Sei quanto custa um pastel e quanto custa uma Ferrari.
Veja – Mas não foi como caixa de uma loja de pneus que a senhora ganhou dinheiro, certo?
Wilma – Trabalhei no mercado financeiro e fui dona de uma casa de câmbio e aplicações financeiras. Nunca dei uma bombada. Nunca joguei na loteria, como João Alves. Ganhei dinheiro como formiguinha.
Veja – Que importância o dinheiro tem na sua vida?
Wilma – É uma questão de realização pessoal. Quase tudo o que eu faço está relacionado com dinheiro. Posso até estar fazendo um bom programa de televisão, com boa audiência e tudo, mas, se não está entrando dinheiro dos patrocinadores, não estou contente. Dinheiro tem de estar na mão certa. Tem de estar na mão de quem sabe gastar. Dinheiro pequeno é que se gasta errado. É a bobagem que sai toda hora do bolso. É o dinheiro que você troca e desaparece. Dinheiro pequeno é gastar à toa. Dinheiro grande eu gasto mesmo. Gosto de Rolex, de Mercedes-Benz, de BMW... Já comprei dois Rolex no mesmo mês. Um deles custou 6 000 dólares. Mas aí vi uma amiga com outro, com fundo de brilhante, e não resisti. Paguei 10 000 dólares por ele. Quando lançaram o jipe Cherokee, na década de 90, eu estava prestes a viajar para Arraial d'Ajuda, na Bahia. Comprei um por telefone.
Veja – A senhora nunca sentiu culpa por tanta ostentação?
Wilma – Não. Tudo o que tenho eu uso. Não rasgo dinheiro. Na volta da viagem à Bahia, quando vi quanto gastei de gasolina com o Cherokee, vendi o carro. Não era um bom investimento.
Veja – Existe algum segredo especial para se tornar um símbolo da classe emergente?
Wilma – É preciso viajar bastante, fazer boas festas e cultivar bons relacionamentos. E não precisa gastar demais, não. Tem muita socialite que mora em casa alugada, tem carro financiado e faz tipo de milionária. Eu, por exemplo, sou uma emergente pobre. Não tenho ilha, Learjet nem apartamento em Nova York. Uma socialite pobre que se preze vai a Buenos Aires, paga 300 dólares pela passagem e compra um produto da Lâncome no free shop. Aí, quando chega ao Brasil, dá o presentinho ao cabeleireiro. O que ele vai dizer às outras clientes? Que fulana de tal trouxe um presente do exterior para ele. É um marketing que rende. E não custa quase nada. O mesmo vale para colunista social. Uma camiseta em Nova York custa 8 dólares. É pouco para quem quer sair bem na foto.
Veja – Como a senhora faz para conciliar seus hábitos de consumo com a rotina da prisão?
Wilma – Está difícil. Só posso sair do presídio para ir ao trabalho. Além disso, a gente não pode entrar com quase nada no presídio. Sabão em pó tem de estar em saco plástico transparente. Embalagem não entra nenhuma. Então compro quase tudo lá mesmo. Tem um mercadinho lá dentro que pertence a um policial e é administrado por uma interna. Compro creme de cabelo, amaciante de roupa, sabão... Estou achando o shopping da minha vida.
Veja – A senhora se tornou muito próxima de alguns dos principais políticos do país. Qual deles mais admira?
Wilma – O José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal. Ele dorme às 3 horas da madrugada, acorda às 5 da manhã, era casado, tinha uma amante e agora, depois de romper com as duas, está de namorada nova. Ele consegue tudo o que eu não consigo. Além disso, é charmoso e bonito.
Veja – A senhora acha mesmo o governador bonito?
Wilma – Se até o Ronaldinho Gaúcho ficou bonito, por que ele não ficaria? Poder e beleza estão misturados, principalmente em Brasília. E quem tem poder não precisa de dinheiro. É convidado para as melhores festas, sempre tem um amigo com o avião de tanque cheio. Eu mesma ganho tudo. Champanhe, não tenho onde botar. Tenho uma adega com 3 000 garrafas. São vinhos e mais vinhos, festas e mais festas. A gente bebe tudo mesmo.
Veja – Como a senhora se define politicamente?
Wilma – Votei no Lula, apesar de achar que foi bom ele levar aquelas vaias. Como o presidente anda sempre cercado de assessores, não deixam chegar a ele as notícias do mundo real. Ele parece a Alice no País das Maravilhas! Acho que tem vontade de fazer as coisas direito. Mas falta ao presidente um braço mais forte. O problema é que eu acho que ele não tem esse braço forte.
Veja – A senhora ficou famosa pelo hábito extravagante de temperar seus jantares com pó de ouro. O metal também aparece em seus vestidos, nos sapatos e nas jóias. Por que tem tanta obsessão por ouro?
Wilma – Ouro tem tudo a ver comigo. Brilha, é alegre. Meu brilho é muito grande.
Veja – O closet de sua casa tem o tamanho de um apartamento de três dormitórios. Não é um exagero?
Wilma – É que tenho muitos sapatos. Nunca contei, mas alguém já me disse que são 600 pares. Posso também passar um ano sem repetir uma roupa.
Veja – A senhora está escrevendo um livro sobre sua experiência na prisão. Que tipo de história pretende contar?
Wilma – Vou contar cada vitória e cada derrota que tive na vida. Darei ênfase maior às mensagens de força e fé, pois espero ajudar muitas famílias que estão passando pelo mesmo que eu. Quero deixar claro que o importante é onde a mente está, e não o corpo.
Veja – Qual é o seu livro de cabeceira?
Wilma – Não tem cabeceira lá na cadeia. Estou lendo a Bíblia.